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terça-feira, julho 31

pandora III 



decidiste fazer o inter-rail e eu fui ter contigo a paris. não descansaste enquanto não nos levaste (a mim e ao pêpê) ao père lachaise, para ver a campa do jim morrison. não me lembro de teres ficado triste ou irritado, mas a verdade é que no meio de toda aquela bebedeira, só se cantava... rolling stones!

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pandora II 



1992. vieste a bruxelas com o PEL e a SG. queiseste ver "o mijão". fazia parte dessa coisa de ser turista... fomos até à grande place. demos uma volta, não muito comprida, por aquelas ruelas do centro, até que chegámos. não sei que expectativas tinhas criado, mas o manneken-pis - e eu avisei-te de certeza - é uma estatueta de nada. chegáste, olháste, e sairam-te uma série de imprompérios (um monte de asteriscos, é o que é) que não devo reproduzir aqui.

olhando para trás, até sou capaz de sorrir.

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segunda-feira, julho 30

pandora I 

ao quinto dia, o choro abrandou. viajo é muito. no tempo...

fomos jantar os dois. estávamos naquela fase em que pais e tios falavam uns com os outros, preocupados. estávamos (mais eu do que tu) naquela fronteira entre a adolescência e a idade adulta, em que os grandes já não nos conseguem controlar, em que se questionam sobre o direito ou o dever de nos protegerem, em que se questionam até onde podem ir (e como). ou então, quem sabe - digo eu que já sou grande - se a preocupação não seria a de se protegerem a eles próprios, à sua amizade que, terão pensado, poderia estar ameaçada por um "namorico" entre duas almas com personalidade forte.
fomos jantar os dois. ao andar de cima do angra. ficámos na mesa do canto, frente ao mar. pedimos arroz de marisco e, se não me engano, vinho branco - um luxo, naquela altura, na nossa idade.
quiseste falar a sério. logo comigo, que não gosto de falar dessas coisas de cá de dentro, que prefiro "ver" a "dizer". logo comigo, que tenho a mania de impor este meu modelo afectivo - chamemos-lhe "mais gráfico" - a toda a gente. desconversei. desviei até mais não. só não fugi porque não podia. querias mesmo falar de coisas sérias. de um "nós" em construção. de um "nós" que eu queria deixar andar e tu - quem diria - precisavas de verbalizar. foi preciso que desses um murro na mesa.

- gosto de ti, porra!


choro menos. mas continuo a recordar muito. gosto de ti, porra! gosto de ti, porra. gosto de ti, porra...

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quinta-feira, julho 26

pandora 

chorei ininterruptamente durante dois dias.
ao terceiro, começou a doer-me o ouvido.

estava um dia mau para praia. foste buscar-me a casa. 'vamos dar uma volta?' fomos. no bibió não estava ninguém. começámos a subir a rua para casa das primas das primas. não estava um dia bom, mas também não estava frio. tirei os óculos de sol e pu-los, como é meu hábito, à cabeça. eram uns óculos pequenos, com hastes em massa, a imitar tartaruga. não dávamos as mãos. tentaste abraçar-me. escapei. voltaste a tentar. no meio dos teus braços, dos nossos corpos, os óculos. na cabeça. uma haste no meu ouvido. um tímpano. contaste-me mais tarde que comecei a praguejar. contaste-me como ficaste preocupado - eu não praguejava. quis ir para casa. e tu, armado em obediente, levaste-me. umas horas depois, a dor. dor a sério. o manel pegou no carro e levo-me para lisboa. a noite tinha caído. no hospital, depois de examinada, o diagóstico: um tímpano furado. 'só em S. Francisco Xavier, na segunda'. fui para casa. e dormi a noite inteira. na manhã seguinte tocou o telefone. era cedo. demasiado cedo.

- estás bem?
- sim.
- passei a noite a fazer a ronda dos hospitais, à tua procura...


ao quarto dia voltei a chorar.

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quarta-feira, julho 25

do puro egoísmo 


desliguei desejando-lhe mais uns. não muitos porque, segundo diz e eu acredito, já lhe dói a idade. parabéns à maria I!

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segunda-feira, julho 23

e depois... 

... tantas memórias.
... tanta, tanta saudade.

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e de repente... 

... puff. nada. o vazio.

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quinta-feira, julho 19

"a mae e amais qrida do mundo intairo" 

esta nota é pessoal e intransmissível. a consumir sem qualquer moderação.

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terça-feira, julho 10

livros? quais livros?

não me tivessem encostado à parede e ainda hoje continuava a assobiar para o lado.

leituras? sim: relatórios, dossiers, discursos, traduções... ah não? o quê, livros?! ai nem sei. dás-me uns dias? pronto. cá vai. porque ficou prometido. e porque sim, eu mereço.

l'attentat, de yasmina khadra
descobri-o por acaso, numa das minhas incursões rápidas a livrarias onde, por falta de tempo, chamo alguém a quem digo invariavelmente qualquer coisa como
tenho muito pouco tempo e preciso da sua ajuda. li X, Y e Z e gostei muito. o que me pode sugerir?
este foi-me sugerido por uma miúda (da minha idade), em bruxelas. li-o de uma penada só, nas viagens loucas que fiz no fim do ano passado e no início deste ano. li-o sob o calor tórrido de são tomé e sobre a paisagem lunar do afeganistão.
é a história de um cirurgião árabe, naturalizado israelita, que lutou muito para vingar na vida. um dia, de tarde, um atentado a uns quarteirões do seu hospital. operou durante toda a noite. voltou para casa exausto. a sua mulher ainda não tinha voltado da viagem que a tinha levado a casa da avó. estava exausto. uma hora depois, batem-lhe à porta. um polícia pede-lhe que o acompanhe. precisavam que identificasse uma vítima. era a sua mulher. suspeita de ser a bombista suicida. o livro relata então o drama deste homem. árabe, de origens muito humildes, que tinha, a muito custo, conseguido vingar na vida. que tinha dedicado a sua vida a salvar outras vidas. que desprezava o fundamentalismo islâmico. o drama deste homem que, sem saber como nem porquê, se vê suspeito de cumplicidade no atentado que acabara de vitimar um grupo de estudantes que festejavam não sei o quê. o drama deste homem que perdeu a mulher, a sua mulher, que ele achava conhecer como a palma da sua mão. não acredita. duvida. não acredita. sofre. este livro relata o drama de um homem que faz uma viagem pelas suas raízes, pelo mundo árabe, fundamentalista (onde também é detido), pela vida à qual virou costas, para perceber se sempre era verdade o que eles diziam.
falei dele aqui e aqui.
gostei tanto deste atentado que procurei outro livro do mesmo autor.

cousine K, de yasmina khadra
procurei les hirondelles de kaboul (porque tinha acabado de lá ir) ou les sirènes de bagdad, mas não encontrei. o meu pai avistou cousine k e ofereceu-mo. é uma muito mais pacata. de violência persistente, oculta. conta a história de uma miúda que se dedica à destruição lenta, progressiva, de um primo. não gostei. deixei a meio - um luxo a que me dou ao direito desde há bem pouco tempo.

ensemble c'est tout, da anna gavalda
é o que estou a ler agora. foi outro dos que trouxe por sugestão daquela miúda da livraria, em bruxelas. são 600 páginas de poche.
um encontro com as almas penadas das grandes cidades, os dramas humanos - sociais - que se cruzam connosco todos os dias e dos quais nem nos apercebemos. camille, «abandonada» por uma mãe que a destrói e que ela odeia, é uma pintora nata, mas decide dedicar-se às limpezas por incapacidade de lutar por algo melhor. philibert, um aristocrata cultíssimo incapaz de se dar, de conviver, que esconde uma enorme generosidade. franck, um cozinheiro que trabalha que se desunha, que dorme vagamente durante a tarde, um homem rude, que - quem acreditaria?! - tem uma ternura infinita por uma avó doente, que ele tenta proteger a todo o custo. são três almas dos nossos dias, que vivem em paris. que não se dão. o acaso junta-os numa mesma casa, onde se vão cruzando, confrontando e criando laços que os fazem confrontar-se com as suas próprias existências.

para trás só me lembro destes. portanto vou falar dos que comprei recentemente e que hei-de ler daqui para a frente:

kafka à beira mar, de haruki murakami
comprei-o no aeroporto. fui à livraria para o J. comprar qualquer coisa que o entretesse, para além das pastas. acabei por comprar eu uns dois ou três livros. trouxe este por casmurrice. há uns tempos ofereceram-me o sputnik, meu amor. não gostei da escrita. mas li-o todo. ano e meio depois comprei outro. para ver...

everyman, de philip roth
tinha vontade de ler qualquer coisa dele há já uns anos. comprei este em washington. é pequenino, e o seu o inglês é mais sedutor do que os outros livros dele que já folheei, em português. we'll see...

à SBL. porque há-de continuar rodeada de livros.

PS: a vingança é uma coisa tão feia...

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quarta-feira, julho 4

modernices 

a partir de hoje, o ministro da defesa do japão é... uma mulher.

os samurais vão dar tantas voltas nos túmulos - e em simultâneo! - que os sismógrafos as vão registar como se de um tremor de terra se tratasse.

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