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segunda-feira, agosto 30

prós meninos sem ondas 

«Um homem.

Um homem de pé, olhando: a praia, o mar. O mar está baixo, clamo, a estação indefinida, o tempo, lento.
O homem está em cima de um estrado de madeira, ao longo da praia.
Veste um fato sombrio. Tem um rosto distinto.
Os seus olhos são claros.
O homem não se mexe: olha.
O mar, a praia, há poças, superfícies isoladas de água morta.
Entre o homem que olha e o mar, junto do mar, alguém caminha. Um outro homem. Veste um fato sombrio. Mas a esta distância não se lhe distingue o rosto. Caminha, afasta-se e volta, torna a partir, a voltar, num caminhar longo, monótono.
Algures na praia, à direita daquele que olha, um movimento luminoso: uma poça esvaindo-se, uma fonte, um rio, rios, ininterruptamente, alimentam o sorvedouro de sal.
À esquerda, uma mulher de olhos fechados. Sentada.
O homem que caminha olha, olha apenas a areia à sua frente. Tem um andar incessante, regular, longínquo.
O triângulo fecha-se com a mulher de olhos fechados, sentada contra um muro que separa a praia do fim da cidade.
O homem que olha está entre esta mulher e o homem que caminha junto ao mar.
Como o homem caminha, persistente, com igual lentidão, o triângulo forma-se e deforma-se, sem nunca se quebrar.»

«O Amor», de Marguerite Duras

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domingo, agosto 29

reencontro 

poderemos ser amigos de pessoas que nunca vimos? e conseguiremos continuar amigos, depois de nos termos visto?

as coisas são mais fáceis de tratar com o desconhecido. deparamo-nos com alguém livre de preconceitos, de ideias feitas em relação a nós, sem memória para julgar e que traz apenas um futuro limpo para aprender, para acreditar. faz-se confiança. como poderia ser, de outra forma? e, delicadamente, retribui-se. se estivermos para aí virados, entregamo-nos, como a um amigo. e usamos o ombro e o colo e aquela linha sempre aberta para os bons e os maus momentos. o riso chega mais discreto, mas seguro. quem se queixa é o queixo que vai não vai, catrapumba para o meio do chão seguido por um esbugalhado «a sério...?!?»
por computador não há química, é certo. é aí que entra a parte da fé. ou se acredita... ou não.

ontem abriram uma excepção para mim. a química não se fez rogada e também compareceu ao encontro. ao reencontro.

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Parabéns, amiga! 

pronto, lá deixáste os 30 para trás. welcome and... GOOD LUCK! life is about to begin...

«Muito cedo na minha vida foi tarde demais. Aos dezoito anos era já tarde demais. Entre os dezoito e os vinte e cinco anos o meu rosto partiu numa direcção imprevista. Aos dezoito anos envelheci. Não sei se é assim com toda a gente, nunca perguntei. parece-me ter ouvido falar dessa aceleração do tempo que nos fere por vezes quando atravessamos as idades mais jovens, mais celebradas da vida. Este envelhecimento foi brutal. Vi-o apoderar-se dos meus traços um a um, alterar a relação que havia entre eles, tornar os olhos maiores, o olhar mais triste, a boca mais definitiva, marcar a fronte de fendas profundas. Em vez de me assustar, vi operar-se este envelhecimento do meu rosto com o interesse que teria, por exemplo, pelo desenrolar de uma leitura. Sabia também que não me enganava, que um dia ele abrandaria e retomaria o seu curso normal. As pessoas que me tinham conhecido aos dezassete anos aquando da minha viagem a França ficaram impressionadas quando me voltaram a ver, dois anos depois, aos dezanove anos. Conservei esse novo rosto. Foi o meu rosto. Envelheceu ainda, evidentemente, mas relativamente menos do que deveria. Tenho um rosto lacerado de rugas secas e profundas, a pele quebrada. Não amoleceu como certos rostos de traços finos, conservou os mesmos contornos mas a sua matéria está destruída. Tenho um rosto destruído.»

«O amante», de Marguerite Duras

Um rosto destruído, talvez. Mas uma alma cheia!

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sexta-feira, agosto 27

caro rui, 

eu também tinha tudo preparado para festejar, com a devida pompa e circunstância, a chegada dos 30. uma almoçarada em que coubesse toda a minha gente, num domingo de abril a céu aberto, em plena serra da arrábida. o tempo estava caprichoso e a sagesse incitou-me a ir dar uma vista de olhos à metereologia. durante uns tempos ainda tive o texto decorado. hoje, a débil memória pós-30 só me deixa lembrar que se previa uma súbita tempestade.
passei o dia em casa, a ver o vento a levantar-se e a tazer consigo uma bela chuvada primaveril. e cá dentro? tempestade. como dizes, os 30 trazem-nos a responsabilidade de ter, finalmente, a vida em mãos. e a alegria de querer ir por ali... de poder ir por ali... mas não saber bem se... ou talvez... mas se... enfim, temos tudo na mão. mas isso fez com que fosse tropelada por uma grande angústia.
os homens passam a sofrer com a barriguinha. as mulheres começam a sofrer antes, principalmente as que, como eu, já se tinham aventurado pela experiência da maternidade. no meu caso... duas experiências bem sucedidas. já me habituara ao estica e encolhe da pele, com os extras todos incluídos. a às noites mal dormidas. e à demorada recuperação das ressacas. e ao doutoramento em farmácia (que só chega aos 30 quando não se tem filhos).
não fui nem ao psicólogo, nem ao psiquiatra, embora conheça muito boa gente que tenha começado a ir. também não fui ao astrólogo, porque já ia há muitos anos. se alguém estiver interessado na matéria, chama-se a este... processo... momento... a esta fase... «o retorno de saturno». é o kronos a cobrar tudo o que fizemos de mal na primeira fase da nossa vida e a dar-nos a oportunidade de corrigirmos, na segunda. tomamos consciência de nós próprios e do que temos em mãos. é não é? já me ouviram certamente dizer que é a pior, mas também a melhor fase da nossa vida.

isso passa. vai tudo correr bem.

inês

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quarta-feira, agosto 25

coisas de mãe 

fiquei a trabalhar até mais tarde. a coisa estava a sair bem e queria aproveitar.
triiim... triiimmm...
- 'tou?
do outro lado, uma voz muito minha disparou:
- mãe, já sei dizer frigorífico!
imaginei o sorriso de orelha a orelha, os olhos vivos e um certo rubor de orgulho. glup... já sabe dizer frigorífico...
- então e o «fivisco»?, perguntei.
- não, mãe. como eu já tenho quatro anos, já sei dizer frigorífico!

pronto... já sabe dizer frigorífico. e deu-me para pensar que daqui a nada já não vai querer colo, nem mimos, nem se vai querer aninhar... há momentos em que queria ter um controlo remoto para premir pause. este é um deles.

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terça-feira, agosto 24

profecias... 

amai-vos um ao outro,
mas não façais do amor uma prisão;
deixai antes que seja um mar ondulante
entre as margens das vossas almas.

(...)

cantai e dançai juntos,
mas deixai que cada um de vós fique sozinho,
como as cordas de uma lira estão sozinhas,
embora vibrem ao som da mesma música.

entregai os vossos corações
mas não ao cuidado um do outro
pois só a mão da vida pode conter os vossos corações.
e ficai juntos, mas não demasiado juntos
pois os pilares do templo estão afastados
e o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro.

Khalil Gibran (o Profeta)

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segunda-feira, agosto 23

até ao teu regresso 

a ana vai deixar a glória fácil. vão lá enquanto ainda lá está, não vá ela apagar o rasto.
eu, por aqui, começarei em breve a sofrer de saudade...

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para começar bem a semana... 



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quinta-feira, agosto 19

«Infelizmência» 

«Atrofia, este país bonito de gente não tanto assim.»

o mundo é demasiado pequeno para o miguel. grande, pelo contrário, é a saudade... se tivessem um amigo assim não o queriam por perto todos os dias?

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terça-feira, agosto 17

deliciem-se 

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis rectas
É fácil fazer um castelo

(...)

Numa folha qualquer
Eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos
bebendo de bem com a vida

Não deixem de ir dar uma vista de olhos a esta lindíssima Aquarela

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lambuzem-se 

será que a loira gosta de mim?

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segunda-feira, agosto 16

cheguei 

mas ainda não me sinto bem aqui...
foto de ni francisco

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