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quinta-feira, setembro 30

diário de uma noiva 

Deitei-me às 02h e acordei às 07h. Dirigi-me em flecha à 5ª conservatória, pois ontem tinham-me ligado da 6ª, a avisar que os papéis ainda não haviam entrado, pelo que não poderiam dar continuidade ao pedido. Cheguei e calmamente e perguntei à senhora, que se lembrava de mim, o que se passava com os documentos que eram supostos estar prontos desde o dia 22 e que ainda não tinham entrado na 6ª conservatória. Pôs um ar eficiente. Abriu uma pasta. Retirou as certidões. E foi entregá-las à 6ª. Eu seguia-a e recusei-me a tecer qualquer comentário. Hoje não fiz nenhuma reclamação por escrito... também pensei «a quem me queixo?». Assim vai o nosso País... e eu cá faço a minha vida. Amanhã caso-me. Não há volta a dar. Está decidido e foi muito ponderado. Estou muito feliz e faço questão de partilhar convosco este novo ciclo da minha vida...

Hoje fui coberta a ouro e diamantes. A noite promete...



oh noiva querida, mas o que é isso, perante essa vida imensa que te espera?

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quarta-feira, setembro 29

hey... 


...mas que maneiras são essas?!? nunca te ensinaram que não se revela a idade de uma senhora...?

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cumpleaño feliz 


a mafalda faz hoje 40 anos. tanto quanto sei, é mãe solteira de uma filha a entrar na adolescência. dedica a vida a uma pequena editora de folhetos contestativos e vive modestamente, porque o pai quino fez reverter todos os seus «direitos à imagem» à investigação do legume-maravilha que faça a sopa saber a chocolate.

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terça-feira, setembro 28

turning back the years 


por mais casas e moradas que venha a ter, acho que nunca hei-de esquecer uma, em particlar. a casa de que falo foi construída lá longe, do outro lado do atlântico, para onde fui viver em 1980 e que teve a sorte de não ser destruída durante a guerra civil que por lá passou antes de mim. se tiver em conta que, nos meus primeiros anos de vida, houve casas em que vivi apenas uns meses, esta de que falo seria, se as contas não me falham, a minha sétima residência.
mas não é a casa que me há-de ficar na memória. o que hei-de certamente recordar para sempre será a sua morada. para se chegar a essa casa, construída à volta de uma altíssima amendoeira, tinha de se ir à «central sandinista de los trabajadores» e depois, era só seguir as indicações: «cinco cuadras arriba y dos y média al sul».
o feng shui desaprovaria a localização do edificado, porque se situava mesmo à frente de uma rua de cujo nome não me consigo lembrar. vendo bem, não creio ter sido muito feliz, naquela casa.

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segunda-feira, setembro 27

sonhar, para não ter pesadelos 

não tenho pesadelos. é um facto. quando o sonho começa a azedar... acordo, sem passar pelo sobressalto, pelo «suar em bica», pelos gritos lancinantes que cortam o silêncio da noite. é assim como digo: não tenho pesadelos e não me lembro de alguma vez os ter tido. mas tenho sonhos. no interior de uma página par da última VISÃO desvenda-se o «enigma das pessoas que não sonham» (baptizado de sindroma de charcot-wildbrandt). da experiência, realizada no hospital universitário de zurique, conclui-se que tudo se deve à ausência de irrigação de uma pequena zona do lóbulo occipital mediano. a resposta não me satisfez, passei à frente e desliguei do assunto, tomando nota que não sonhava há uns tempos. e o dia correu-me bem.

esta manhã acordei naquela fase em que o sonho passa a pesadelo. a maria estava a dar mergulhos de cabeça numa piscina que não teria mais de 1x3m. «cuidado que ainda bates com a cabeça», angustiava-se a bis. mergulhou mais uma vez e ficou imóvel, em posição fetal, debaixo de água. acordei. mas adormeci logo a seguir e tive mais dois sonhos.

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sexta-feira, setembro 24

sob o sol de outono... 


outra forma de entrar na mesma onda: «a ciência é a poesia do intelectos e a poesia é a ciência das doenças de coração.» (Lawrence Durrell)

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a força da mente 

tive um grande desastre nos últimos dias de fevereiro de 2003. ia depressa, mas não excedia o limite de velocidade. o piso estava molhado e haveria uma mancha de óleo na faixa da direita. a história em si não tem nada de mais: perdi o controlo do carro, fiz um peão em plena autoestrada de cascais (na curva do km7), bati no rail da direita para depois me imobilizar na faixa central. hoje vejo tudo em câmara lenta. girava. tanto quanto o cinto mo permitia, empurrei-me para o lado do passageiro, não fosse o carro embater exactamente no meu lugar. a probabilidade era grande e, se tal se concretizasse, eu ia desta para melhor.

nessa sequência de centésimas de segundo em que o tempo parece andar mais devagar, não vi o filme da minha vida. não me vi miúda, em família. não vi os grupos de amigos. não vi o dia do meu casamento nem a cara das minhas filhas. naquela sequência de centésimas de segundo só consegui ter um pensamento: «que não bata em mim». o carro bateu no rail e fiquei imobilizada, na perpendicular, no meio da autoestrada. a quinquilharia foi para a sucata, mas o rail não bateu em mim.

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quarta-feira, setembro 22

asco 



814 mortos, 2 921 feridos graves, 33 765 feridos ligeiros. é esta a crua realidade da sinistralidade rodoviária portuguesa, entre o primeiro dia de janeiro e sábado passado, 19 de setembro. números, taduzidos em estatísticas. sem mais. devidamente comparados com anos anteriores, catalogados e arquivados.

hoje, na assembleia da república, discutiu-se a alteração ao código da estrada. não os contei, mas não estavam mais de 50 deputados no hemiciclo. bem, justiça lhes seja feita, não faltariam muitos do PCP, os verdes estavam pesentes e até se fizeram ouvir e o bloco, como é seu costume, também marcou posição. de resto... os senhores deputados do ps deviam estar mais preocupados em angariar votos para o seu próximo secretário-geral. e os que apoiam o governo... bem, patrão fora, dia santo na loja, não é?

os senhores deputados não devem ter nunca sentido o peso destes números. não devem saber que 18 destas 814 vítimas mortais tinham menos de 14 anos. não se devem lembrar que por trás destes 814 mortos, 2 921 feridos graves e 33 765 feridos ligeiros há nomes, idades, profissões, famílias, amigos.... há, ou melhor, havia a vida da mafalda, a filha mais velha da família SP, acabadinha de se formar em economia e com imensos projectos para o futuro; havia a do nuno, aquele puto giro de 15 anos, campeão de equitação, que, num sábado à noite, voltava para casa com um grupo de amigos quando um bebedo lhe veio para cima. eu conheço estes dramas. pelo menos estes dois. depois de quase um ano em coma, já lá vão dez anos, a mãe da mafalda já consegue andar sozinha, de andarilho. e a família do nuno desmoronou-se, simplesmente.

pronto. como vês, martim, às vezes não resisto a falar do nosso ganha pão. desta vez, para dizer que é nestes momentos que a minha profissão me deprime, me cobre de vergonha... me mete nojo. portugal ultrapassa qualquer país europeu quando se comparam os dramas dns estradas. e, no parlamento... quase 80% das cadeiras vazias.

PS: ah, quase me esquecia... houve uma deputada da oposição que levou hoje com um doido em cima, pelas bandas de santarém. diagonóstico: traumatismo craniano e bacia partida. registe-se, para a estatística.

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terça-feira, setembro 21

c'est vraiment extra...! 


fui ontem ao cacifo que nos serve de caixa do correio. esperava-me um envelope em papel pardo, devidamente identificado com a instituição remetente. uma carta da concorrência?!?. era um presente... o cumprimento de uma promessa antiga.
a capa também não é a mesma que a do disco vraiment extra que tenho aqui... a «minha», preta com letras brancas, cinzentas e um quadrado encarnado no canto inferior direito, é muito mais gira!

PS: obrigada alex!

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segunda-feira, setembro 20

coisa de outra mãe 

- mãe, o avô F. e o avô E. estão no céu, não é?
- é.
- são aquelas estrelinhas ali, não é?
- sim.
- então... oh mãe, então eu só tenho avôs à noite?
- euhhh...
- não faz mal, mãe. de dia eu uso o avô A.*

*o avô A. é o avô dos primos da teresinha, que aos três anos e meio já deixa a mãe joana de olhos arregalados e palavras suspensas.

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benvenuto, corto! 

chegou*...

...como quem não quer a coisa.

*ou melhor, chega todas as segundas com o público, por mais 4 euros.

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sexta-feira, setembro 17

à beira de uma gripe, só penso na minha cama e em ser esquecida pelo mundo.

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à espera da noite 

estou em trânsito entre um livro e outro. tenho pegado naquele de capa preta, com uma foto do brel a contra-luz, um dos que se encontra em lista de espera no meu guichet de cabeceira. gosto de o ler sem pressa. devagar, muuuito devagar. à noite. sempre à noite, quando a vida desperta.



- jacques, que fais-tu le jour?
- j'attends la nuit.

«J'attends la nuit», de Paul-Robert Thomas, foi-me recomendado pelo joão. sou capaz de ir deixando rastos seus por aqui.

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quinta-feira, setembro 16

no início do ano escolar 


o facto de ter escolhido, para as minhas filhas, uma escola que tem por regra começar as aulas na primeira semana de setembro dá-me uns poucos de créditos, não?

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quarta-feira, setembro 15

plástico 

gostei dos bailarinos. gostei das imagens. gostei - gostei muito! - do skater e dos tipos do circo e do gaiteiro e dos pauliteiros. e da madonna? pois, acho que só gostei do imagine, que nem sequer é dela. achei que, tirando aquele corpo fabuloso e o que ela consegue fazer dele, a material girl não passa disso mesmo. não tem aura, não tem garra, não tem espírito, quanto mais alma.

não sou fã. fui pelo espectáculo que não existiu. as expectativas eram medianas, portanto não saí de lá muito surpreendida. o que me surpreendeu, isso sim, foi dar de caras com o daniel* a dançar e a cantar, eufórico, e a deixar escapar um looongo suspiro quando a dita cuja pegou num canto da saia para limpar a lágrima que fez questão de deixar escapar.

*pronto, não resisti. depois de, há duas semanas, ter sido citada pelo barnabé, achei que me podia dar ao luxo desta pequena provocação (pois é, lamento informar mas a performance do daniel não passa de uma grandecíssima mentira...)

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apresento-vos... 


...o mais feliz dos acasos.

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parabéns 

a eternuridade fez um ano no domingo e eu deixei passar a data. não faz mal... eu sei que o eternurento sabe que me lembro dele para além das datas e dos aniversários, simplesmente porque ele é o género de pessoa a quem ficaria bem a etiqueta «tomar de vez em quando por necessidade e deixar dissolver no espírito.»*

* frase «roubada» ao Baltazar, de Lawrence Durrell

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terça-feira, setembro 14

fraqueza 

o meu pecado mora aqui.

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segunda-feira, setembro 13

optimismo 


em certas alturas, o que é preciso é espírito positivo.

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início 

- 'tou, inês? acabei de deixar a C. na escola. a tua B. está lá sentada...
- ... ainda está a chorar...?!?
- não. está sentada num canto, com aquele ar contido, de quem está prestes a desatar a chorar... olha que é assim que se criam traumas.

não é não. só se criam traumas assim se não estiver um enoooorme colinho à espera dela em casa.

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terça-feira, setembro 7

presente 



«When you love someone you do not love them all the time, in exactly the same way, from moment to moment. It is an impossibility. It is even a lie to pretend to. And yet this is exactly what most of us demand. We have so little faith in the ebb and flow of life, of love, of relationships. We leap at the flow of the tide and resist in terror its ebb.
We are affraid it will never return. We insist on permanency, on duration, on continuity; when the only continuity possible, in life as in love, is in growth, in fluidity, in freedom, in the sense that the dancers are free, barely touching as they pass, but partners in the same pattern. The only real security is not in owning or possessing, not in demanding or expecting, not in hoping, even. Security in a relationship lies neither in looking back to what it was in nostalgia, nor forward to what it might be in dread or antecipation, but living in the present relationship and accepting it as it is now.»

«Gift from the sea», de Anne Morrow Lindbergh

Parece que quando se completam os oito anos as dúvidas, os aguaceiros se dispersam... vamos ver.

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segunda-feira, setembro 6

je te donne... 

dei de caras com um saco de K7 antigas, daquelas de que não nos queremos despedir com medo do sabor a amputação. recuperei coisas tão díspares como pink floyd, genesis, lloyd cole, post scriptum (esqueçam, não procurem... nunca ouviram nem nunca ouvirão falar destes...), cure, keith jarret e muitos muitos «vários». peguei numa onde se lê «divers - français». pus a tocar. partenaire particulier (aquele que «cherche partenaire particulière» já não me diz muito. a lio e os niagara ainda despertaram sorrisos. etienne daho faz-me lembrar o diogo. mas o que mexeu comigo foi mesmo o jean jacques goldman. olhando para os CD's arrumados ali na sala, os que ponho hoje em dia a tocar, pergunto-me como é possível... ser o tal do goldman e o seu «je te donne» a tocar-me cá no fundo... tinha 15 anos... tinha, nesse ano, mudado de escola... foi a minha primeira viagem à neve... com a inês e o rodrigo... e o refrão cantava assim:

Je te donne toutes mes différences,
tous ces défauts qui sont autant de chance
on sera jamais des standards, des gens bien comme il faut
je te donne ce que j'ai, ce que je vaux


gostava de ainda saber dar assim...

NB: já voltaste há tempo demais, meg. mas terás certamente umas quantas K7 que te façam voltar outra vez... ou não?

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sábado, setembro 4

memória de verão 1 


«ele fazia-a rir - a coisa mais perigosa que se pode fazer com uma mulher porque, depois da paixão, é o riso que elas mais prezam. Fatal!»

mais um pouco de Baltazar, de Lawrence Durrell

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peso 

um pai, de costas, carrega o corpo de dois filhos, mortos no terramoto que, nas primeiras horas do dia 26 de dezembro, devastou a cidade de bam, no irão. fiquei um bom bocado a olhar para aquele vulto adulto. senti-lhe o sofrimento, a raiva, a desesperança. senti também a enorme tristeza que carregava em ombros.

a natureza por vezes é madrasta. o homem, monstruoso. cenas destas vemo-las muitas vezes, vindas do iraque (michael moore tem uma muito forte, no fahrenheit 9/11) e, agora, a ossétia do norte... vi. senti. e hoje carrego isso tudo comigo.

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sexta-feira, setembro 3

coisas de mãe 2 

estacionei. virei-me para trás e gritei «riámos!»
- «Che-gámos», respondeu-me a B., com a seriedade possível dos seus míseros dois anos. dos seus olhos saía um provocador «mãe, eu já não sou nenhum bébé...»
- «Riámos!» corrigiu a maria, também ela habituada àquele sinal de que a viagem tinha chegado ao fim.
a B. não se deixou enganar e repetiu, com toda a propriedade: «Che- pausa para que não houvesse enganos, para captar a atenção e para que a mensagem passasse tal qual como pretendia -gámos».

ainda não me consegui habituar... o crescimento é irreversível, o crescimento é irreversível, o crescimento é irreversível.

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quinta-feira, setembro 2

memória de verão 

"«- Écoute...
«- Rien, silence.
«- Mais, chéri, nous sommes seuls. - Ela ainda se sentia sonolenta. Pursewaden lançou um olhar à porta, ao ferrolho. Ela sentiu um momentâneo desprezo por aquele temor burguês: medo de espiões, de curiosos, do marido?
«- Qu'est-ce que c'est?
«- Je m'écoute moi-même. - Olhos amarelos, sem o menor traço perceptível de divindade neles; assemelhava-se a um esguio ídolo de pedra, com um bigode aguerrido. Vidas anteriores? - Le coeur qui bat. - Com ar chocarreiro, Pursewaden trauteou uma canção popular.
« Tu n'est pas une femme pour moi, pas dans mon genre.
«Isso fê-la sentir-se como um cão espancado, especialmente porque, momentos antes, ele a tinha beijado, quebrando-a em imagens sucessivas de dor e prazer com uma ousadia que pertencia, ela sabia-o, agora, não a ele próprio mas à sua paixão."

Baltazar (ou, se preferirem, Quarteto de Alexandria 2), de Lawrence Durrell

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fall 


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quarta-feira, setembro 1

cronómetro 

«a sério, o consumo anda a apressar ainda mais o tempo.»
a emília acabou de chegar de férias. os saldos acabaram e nas montras, apesar do sol, do calor, das moscas e demais atracções de verão, já só se vêem lãs, flanelas, calças compridas, sapatos fechados e botas altas. acabou-se o umbigo à mostra e a perna ao léu. daqui a nada, já com o sol a entrar em hibernação, hão-de aparecer primeiro umas luzinhas, depois umas discretas cores e a seguir, descaradamente, as pujantes decorações de natal. a febre consumista estará ao rubro, com a caça ao presente para a mãe e aquele para o pai. e o da avó joana e do tio antónio. e o da catarina, da inês, da maria e da ana, o do luís, o gonçalo, a beatriz e a sofia... ah, e a margarida - não me posso esquecer de a pôr na lista. a professora das miúdas também há-de merecer uma lembrança. e a «xôdona» lurdes também. e, se sobrar dinheiro, ainda compro um miminho para mim.
e assim, de cunsumo em consumo, lá estaremos no próximo ano.

pronto. e pró anos há mais.

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